A empreendedora Vanessa Vilela tem motivos de sobra para justificar sua paixão pelo café. Mineira nascida na cidade de Três Pontas, a farmacêutica faz parte da sexta geração da família a liderar negócios ligados ao grão, das propriedades para o cultivo a revenda do grão torrado ou em formato de bebida, já ao consumidor final.
Mas, apesar de manter viva a tradição cafeicultora de sua família, ela é a primeira a apostar no uso do grão para finalidades criativas que vão além de uma boa xícara da bebida.
Atualmente, ela está à frente da Kapeh Cosméticos e Cafés Especiais, marca que utiliza os grãos verdes do café para a fabricação de produtos de beleza e que já fatura R$ 5,1 milhões.
Como tudo começou
Farmacêutica e bioquímica de formação, Vanessa escolheu seguir o ramo para ganhar o embasamento científico e técnico de que precisava para, algum dia, realizar o sonho de ter sua marca própria de cosméticos.
O processo para a fundação da Kapeh começou, então, a partir dessa aspiração e de um intenso trabalho de pesquisa e desenvolvimento.
Em parceria com a Universidade Federal de Lavras, também de Minas Gerais, ela desenvolveu um projeto de pesquisa que se dedicava a encontrar os benefícios à saúde trazidos pelo grão cru de café, especialmente para a pele e cabelos — uma vertical pouco explorada pela indústria.
“Olhei no meu entorno essa imensidão de café e decidi que era interessante explorar os benefícios dele para a beleza”, conta.
Foi a partir da descoberta de uma extensa lista de benesses trazidas pelo grão, como o potencial rejuvenescedor e antioxidante, que nasceu a Kapeh Cosméticos, que une o grão verde, antes da torra, aos produtos de beleza.
O investimento inicial da empreendedora foi de R$ 500 mil, quase totalmente voltados ao amadurecimento do processo de pesquisa científica e criação de uma linha de produção para os primeiros itens da marca.
“A missão inicial da Kapeh, e que permanece até hoje, é a de agregar valor, de divulgar todo o potencial desse grão de uma forma diferente do que a gente está habituado a ter. O nosso slogan, inclusive, é: “o café é como você nunca viu”, lembra.
Inovação
O pontapé da marca foi uma linha enxuta de produtos, com apenas cinco variações — atualmente, são mais de 200 itens no catálogo da marca, entre sabonetes, cremes faciais, produtos capilares e esfoliantes.
A Kapeh também se apropria da produção própria de grãos, cultivados nas propriedades de Vanessa e seus familiares e sócios, entre eles seu marido, consultor também especializado no segmento.
“O mercado era carente de matéria-prima já fabricada com o propósito que fosse além da bebida. Por isso, criamos uma metodologia de produção do zero, e isso nos faz ser muito disruptivos para a época”, afirma.
De olho em tendências ligadas às mudanças no padrão de consumo, a Kapeh também aposta na sustentabilidade e responsabilidade social.
Todos os grãos utilizados como matéria-prima pela marca são rastreáveis, de modo que o cliente final possa consultar a procedência, região de colheita e outras informações que garantem o cumprimento de normas ambientais e sociais — como o trabalho formal e remunerado dos envolvidos na cadeia produtiva.
Para além do uso pouco usual do grão, a Kapeh também busca inovar ao oferecer um modelo de negócios tratado como diferencial competitivo pela marca: a imersão no que Vanessa chama de “universo do café”, com lojas físicas que também funcionam como cafeterias, unindo a venda dos produtos de beleza à degustação de diferentes variações da bebida, também assinadas pela Kapeh.
O modelo, criado em 2016, é replicado em mais de 20 unidades, entre lojas físicas e franqueadas.
“A proposta das lojas de café é fazer uma imersão para descobrir esse grão como você nunca viu. Na cafetaria, você entende que café é uma bebida extremamente aromática, com diferentes métodos de preparo e notas. Temos as estações de degustação para uma experiência. Já para os cosméticos, o teste é essencial para que as pessoas percebam logo de cara, na primeira utilização, o benefício do café na pele”, explica a fundadora.
A proposta de unir a experiência de degustação ao teste dos produtos de beleza é replicada em lojas de shopping e lojas de rua, além de quiosques de menor proporção – todos modelos disponíveis a franqueados da Kapeh.
Além das lojas próprias e franqueadas, a Kapeh também possui um e-commerce próprio e tem seus produtos revendidos por lojas de varejo multimarcas em todo o país.
O futuro do café
O caráter inovador da Kapeh levou Vanessa a ser reconhecida em diversas premiações do universo do empreendedorismo e da tecnologia.
Em 2010, ela ficou entre as 10 melhores empreendedoras do mundo no prêmio Empretec Women in Business Award, promovido pela ONU. Também conquistou o Prêmio Nacional de Inovação, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e foi selecionada como uma das líderes jovens globais mais notáveis pela Young Global Leader (YGL), do Fórum Econômico Mundial.
Com o gabarito de diversas premiações e, a ambição da empreendedora para o futuro é unificar a presença da marca em múltiplos canais, além de estender o portfólio de produtos.
“Quando vemos um catálogo de mais de 200 itens, parece muito. Mas ao lado de gigantes como Avon e Natura, que têm mais de 800 itens, ainda temos muito a crescer”, afirma.
Na mira da Kapeh também está a expansão das exportações, hoje parte tímida da operação.
“Focamos até então no mercado nacional, já que somos um dos maiores consumidores e produtores de café e o Brasil é um país continental, mas sem dúvida vamos expandir pelo mundo”, afirma.
Apostar na unificação de canais, com a ajuda dos franqueados, também está nos planos. A intenção é estar presente tanto no varejo físico quanto online, e também ampliar a presença de revendedores.
“Apoiar o empreendedorismo só reforçaria nosso discurso como marca sustentável e inovadora”, avalia. Os resultados de todas essas estratégias já são esperados no curto prazo. Até o final de 2026, a Kapeh quer saltar de 20 para 100 unidades comercializadas.
Sobre o seu papel como líder feminina à frente de um empreendimento inovador, Vanessa é categórica: é preciso fomentar a maior presença de mulheres no empreendedorismo, mas essa ambição também deve ser motivada por paixão.
“É preciso ter um tripé, aquilo que nos sustenta. É muito difícil ter esse gás, esse entusiasmo sem paixão, né? Fazendo algo que você não tem identificação com o negócio. Então, essa paixão, essa identificação com o negócio, quando se quer empreender eu vejo que é a base”, diz.
(texto de Maria Clara Dias)
Mais de 60% das mulheres empreendem sobrecarregadas, diz pesquisa