As taxas dos DIs fecharam a sexta-feira (7) em queda firme, superior a 20 pontos-base em alguns vencimentos, após dados do Produto Interno Bruto (PIB) sugerirem desaceleração da economia brasileira e números do mercado de trabalho norte-americano impulsionarem as apostas em cortes de juros nos EUA.
Durante a tarde comentários do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, alteraram um pouco essa percepção sobre os juros nos EUA, o que deu força aos rendimentos dos Treasuries, mas no Brasil as taxas dos DIs se mantiveram em queda.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 — um dos mais líquidos no curto prazo — estava em 14,735%, ante o ajuste de 14,796% da sessão anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 marcava 14,585%, ante o ajuste de 14,768%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 14,69%, em queda de 23 pontos-base ante 14,923% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 14,68%, ante 14,908%.
Pela manhã o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB cresceu 3,4% em 2024, acima dos 3,2% do ano anterior e pouco abaixo da previsão de 3,5% do governo.
Apesar do resultado anual robusto, o PIB cresceu apenas 0,2% no quarto trimestre do ano passado, ante o trimestre anterior, abaixo da expectativa de alta de 0,5% para o período.
O dado reforçou percepção de desaceleração da economia doméstica.
“Em geral, vemos que a atividade econômica deve desacelerar ao longo de 2025. Então, nós esperamos um crescimento do PIB mais perto de 2%”, comentou Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.
No mercado, uma das leituras era de que, com a economia crescendo menos, o Banco Central pode não precisar elevar tanto a taxa básica Selic, hoje em 13,25% ao ano, para segurar a inflação. No mercado de DIs, isso se refletiu na queda das taxas.
Este movimento se intensificou perto das 10h30, após o Departamento do Trabalho dos EUA informar que foram criados 151.000 empregos fora do setor agrícola em fevereiro, abaixo dos 160.000 postos de trabalho projetados por economistas ouvidos pela Reuters.
Os dados do relatório de empregos payroll pesaram sobre a curva de juros norte-americana e sobre as taxas futuras no Brasil. Às 12h44, a taxa do DI para janeiro de 2033 estava na mínima de 14,64%, em queda de 27 pontos-base ante o ajuste da véspera.
No meio da tarde Powell afirmou, em um fórum econômico em Nova York, que o Fed não terá pressa em reduzir a taxa de juros, enquanto aguarda mais clareza sobre como as políticas do novo governo Trump afetam a economia.
“O novo governo está em processo de implementação de mudanças significativas em quatro áreas distintas: comércio, imigração, política fiscal e regulamentação”, disse Powell.
“A incerteza sobre as mudanças e seus prováveis efeitos continua alta. Estamos concentrados em separar o sinal do ruído à medida que as perspectivas evoluem. Não precisamos ter pressa e estamos bem-posicionados para esperar por mais clareza”, acrescentou.
Os comentários de Powell deram força aos yields dos Treasuries, que passaram a subir, mas no Brasil as taxas dos DIs seguiram com baixas firmes.
Perto do fechamento a curva brasileira precificava 86% de probabilidade de alta de 100 pontos-base da taxa básica Selic em março, como vem indicando o BC.
As dúvidas maiores seguem girando em torno do que será feito com a Selic a partir de maio. Na quinta-feira (6) o mercado de opções de Copom da B3 precificava 58,00% de probabilidade de alta de 50 pontos-base da Selic em maio, 14,50% de chances de elevação de 75 pontos-base, 10,50% de probabilidade de alta de 25 pontos-base, 9% de chances de manutenção e apenas 7,00% de chances de nova alta de 100 pontos-base.
Durante evento em Lisboa na tarde desta sexta-feira, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, afirmou que é necessário reduzir o hiato do produto e desacelerar a economia brasileira para levar a inflação em direção à meta perseguida pela instituição, de 3%.
Segundo ele, a autoridade monetária vê o hiato do produto como positivo no Brasil — em uma indicação de que a economia cresce acima do seu potencial —, mas com potencial de se tornar negativo em seis trimestres.
No exterior, sob o efeito de Powell, às 16h38 o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — subia 4 pontos-base, a 4,326%.
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