A Rússia quer que a Otan renuncie à promessa feita em 2008 de um dia conceder à Ucrânia adesão à aliança militar liderada pelos Estados Unidos e que o país concorde com a neutralidade, informou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, nesta terça-feira (18).
A adesão da Ucrânia à aliança é inaceitável para a Rússia, mas uma simples recusa em deixá-la entrar também é insuficiente para Moscou, pontuou a porta-voz.
“Vale ressaltar que a recusa em aceitar Kiev na Otan não é suficiente agora”, declarou Zakharova em resposta a uma pergunta da Reuters. “A aliança precisa rejeitar as promessas de Bucareste de 2008”.
A porta-voz continuou afirmando que, “caso contrário, esse problema continuará a envenenar a atmosfera no continente europeu”.
Zakharova disse que a Ucrânia precisa retornar à posição de sua declaração de soberania de 1990 da União Soviética, na qual Kiev afirmou que se tornaria um Estado permanentemente neutro, não participaria de blocos militares e permaneceria livre de armas nucleares.
“O que precisam fazer é retornar às origens de sua própria condição de Estado e seguir a letra e o espírito dos documentos”, ressaltou ela.
Nas palavras dela, essa seria a melhor garantia de segurança para o território ucraniano.
Acrescentando que nem a adesão à aliança, nem a intervenção ocidental “sob o disfarce de um contingente de manutenção da paz” poderiam dar à Ucrânia essa segurança.
Em uma reunião de cúpula em Bucareste, em abril de 2008, a Otan declarou que tanto a Ucrânia quanto a Geórgia se uniriam à aliança de defesa liderada pelos Estados Unidos, mas não lhes deu nenhum cronograma ou plano de como chegar lá.
A declaração foi um compromisso que preencheu as lacunas entre os Estados Unidos, que queriam admitir os dois países, e a França e a Alemanha, que temiam que isso antagonizasse a Rússia.
A Rússia tem citado repetidamente a ampliação pós-soviética da Otan e, especificamente, as ambições de Kiev na Otan, como motivo para a guerra na Ucrânia.
A aliança rejeita essa afirmação, dizendo que é um grupo defensivo que, nos últimos três anos, tem ajudado Kiev a lutar contra a invasão russa.
O presidente Vladimir Putin diz que os Estados Unidos, desde o fim da Guerra Fria, ignoraram as preocupações legítimas da Rússia sobre a ampliação da Otan, que foi criada em 1949 para fornecer segurança coletiva a um grupo de países ocidentais contra a União Soviética.