O presidente dos EUA, Donald Trump, acusou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky de “tentar recuar” no acordo de minerais que deve ser fechado entre os dois países já nesta semana.
Trump afirmou ainda que Zelensky enfrentaria “grandes problemas” se não assinasse um acordo. A Ucrânia tem pontuado que as condições do acordo firmado mudaram “significativamente” nos últimos dias.
“Vejo que ele está tentando recuar sobre o acordo de terras raras e, se ele fizer isso, terá alguns problemas. Grandes, grandes problemas”, disse o republicano a repórteres a bordo do Air Force One, no domingo (30). “Fizemos um acordo sobre terras raras e agora ele está dizendo, ‘bem, você sabe, eu quero renegociar o acordo’”, acrescentou.
O presidente norte-americano ainda abordou o desejo da Ucrânia de ser inserida na OTAN e sinalizou que não vai colocar tal fator como condição para renegociar o acordo.
“Ele [Zelensky ] quer ser um membro da OTAN. Bem, ele nunca será um membro da OTAN e entende isso, então, se ele está querendo renegociar o acordo, terá grandes problemas”, ressaltou.
Zelensky disse na semana passada que as condições do acordo que está sendo negociado estão “mudando constantemente”, mas, no geral, a Ucrânia se sente positiva em relação a um futuro compromisso.
O presidente ucraniano declarou na quinta-feira passada que os dois países já haviam concordado com um acordo prévio e que um compromisso mais completo seria discutido mais tarde, envolvendo mais pesquisa e ratificação no parlamento ucraniano.
“Mas então o lado americano mudou sua posição para propor um acordo completo imediatamente”, afirmou Zelensky.
“É muito cedo para falar sobre o acordo, que foi alterado várias vezes. Mas eu não gostaria que os EUA tivessem a sensação de que a Ucrânia é contra ele em gera. Temos mostrado consistentemente nossa visão positiva, somos a favor da cooperação com os Estados Unidos”, completou.
Imbróglio
O acordo inicial sobre minerais não foi assinado após a controversa reunião de Trump no Salão Oval com Zelensky em fevereiro.
No entanto, as negociações foram retomadas na forma de uma nova proposta, que daria aos EUA mais acesso aos minerais de terras raras de Kiev, de acordo com duas pessoas familiarizadas com as discussões e uma cópia do rascunho da proposta obtida pela CNN na quinta-feira.
A nova proposta, apresentada pelo Departamento do Tesouro dos EUA, vai muito além do rascunho inicial do acordo. Ela não incluiu condições sobre uma das prioridades da Ucrânia — garantias concretas de segurança na guerra em curso do país com a Rússia.
Além disso, o acordo se aplicaria a todos os recursos minerais, petróleo e gás em toda a Ucrânia, disseram as fontes.
Uma parte fundamental da proposta exige que as empresas ucranianas contribuam para um fundo de investimento conjunto entre EUA e Ucrânia que seria supervisionado por um conselho de cinco pessoas, composto por três membros de Washington e dois de Kiev — gerando preocupações de que a Ucrânia estaria cedendo o controle abrangente de ativos importantes para os americanos.
O governo Trump argumentou que o possível acordo sobre minerais serviria como uma das principais razões para os EUA permanecerem investidos na Ucrânia enquanto Washington busca o fim da guerra.
Trump também se referiu ao acordo sobre minerais de terras raras como uma forma de os EUA serem compensados pela ajuda e assistência militar enviadas à Ucrânia.
Negociações
Os Estados Unidos estão de olho em acordos tanto com a Ucrânia quanto com a Rússia sobre a exploração de metais em terras raras. As negociações envolvem, sob pano de fundo, o envolvimento para o fim da guerra.
“O acordo mineral oferece à Ucrânia a oportunidade de formar um relacionamento econômico duradouro com os Estados Unidos, que é a base para a segurança e a paz de longo prazo. Ele fortalecerá o relacionamento entre nossas duas nações e beneficiará ambas as partes”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, James Hewitt, à CNN.
Enquanto isso, Washington e Moscou também iniciaram negociações relacionadas à cooperação em metais de terras raras e outros projetos na Rússia.
“Metais de terras raras são uma área importante para cooperação, e certamente iniciamos discussões sobre vários projetos na Rússia”, disse Kirill Dmitriev, CEO do Fundo Russo de Investimento Direto.
Dmitriev, um conselheiro próximo de Putin, fazia parte da equipe de negociação de alto nível do Kremlin que se envolveu em conversas diretas com diplomatas dos EUA na Arábia Saudita.
O Kremlin disse nesta segunda-feira (31) que nenhum documento foi assinado ainda, mas há interesse em cooperação.
Isso acontece enquanto Trump continua pressionando pelo fim da guerra, expressando frustração aberta com o presidente russo Vladimir Putin desde o fim de semana.
“Fiquei muito bravo quando Putin começou a mexer na credibilidade de Zelensky, porque isso não está indo para o lugar certo, entende?”, declarou Trump à NBC News, referindo-se aos comentários do líder russo em que sinaliza uma “administração temporária” na Ucrânia enquanto as duas nações trabalhampara o cessar-fogo.
“Uma nova liderança significa que você não terá um acordo por um longo tempo, certo? … Mas se um acordo não for feito, e se eu achar que foi culpa da Rússia, vou colocar sanções secundárias na Rússia”, acrescentou o republicano
Questionado a bordo do Air Force One se há um prazo para Putin concordar com um acordo, Trump disse: “É um prazo psicológico. Se eu achar que eles estão nos pressionando, não ficarei feliz com isso.”
O presidente da Finlândia, Alexander Stubb, que fez uma visita surpresa à Flórida no fim de semana para se encontrar com Trump e jogar uma partida de golfe, disse que comunicou que um prazo deveria ser definido.
Após a reunião dos dois líderes na Flórida, o mandatário finlandês confirmou aos repórteres que a paciência de Trump com a Rússia estava se esgotando.
“O dia 20 de abril seria um bom momento para um cessar-fogo total, sem quaisquer condições impostas… porque um prazo é necessário, porque é Páscoa e porque o presidente Donald Trump já estará no cargo por três meses”, disse Stubb, sobre sua sugestão de um prazo.
Kosta Gak, Anna Chernova, Victoria Butenko e Betsy Klein, da CNN, contribuíram para esta reportagem.
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