O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou em sua delação que o ex-presidente pressionou o general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa, para que escrevesse em relatório a existência de fraude eleitoral na eleição presidencial de 2022.
De acordo com Cid, Bolsonaro “queria que escrevesse que tivesse fraude”. Veja a transcrição entre o tenente-coronel e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF):
Alexandre de Moraes: “[…] A comissão do Exército, no dia seguinte da eleição, ela fez o laudo constatando que não havia nenhum problema. Tanto que o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, pediu e marcou uma reunião comigo, como ministro presidente do TSE, para terça-feira. E terça de manhã ele ligou pedindo desculpas, desmarcando a reunião porque o presidente tinha chamado. E aí foi mais um mês, em outras palavras, ele foi proibido de mostrar o laudo que não tinha nenhum problema. Disso o senhor tem ciência?”
Mauro Cid: “Eu tô lembrando do caso. O que aconteceu foi realmente isso. Inicialmente, o general Paulo Sergio, a conclusão dele seria isso [que não houve fraude]. E o presidente estava pressionando ele para que ele escrevesse isso de outra forma. Ele queria que escrevesse alguma coisa que não…na verdade, o presidente queria que escrevesse que tivesse fraude. Então, foi feita uma construção ali e o que acabou saindo, eu acho, foi que não se poderia comprovar porque não era possível auditar. Acho que foi isso a conclusão final quando ele enviou o documento para o senhor, se não estou enganado.”
O documento, elaborado pelas Forças Armadas e enviado pelo Ministério da Defesa ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dez dias após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirma que não foram constatadas irregularidades no processo eleitoral.
No entanto, em nota divulgada pela Defesa um dia após o envio do relatório à Corte Eleitoral, a pasta argumentou que não seria possível excluir a possibilidade de fraude ou inconsistência nas urnas.
“O Ministério da Defesa esclarece que o acurado trabalho da equipe de técnicos militares na fiscalização do sistema eletrônico de votação, embora não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”, diz o comunicado compartilhado em 10 de novembro de 2022.