A onda de calor que afeta o Brasil desde segunda-feira (17) deve se estender até o dia 24 de fevereiro. Essa é a terceira onda de altas temperaturas que o país enfrenta no ano, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, entrou no nível de calor 4, patamar inédito na escala de cinco níveis determinados pela prefeitura no ano passado para alertar sobre a temperatura na capital.
Os impactos das altas temperaturas no corpo humano incluem desde desidratação até taquicardia, sensação de desmaio e, em casos graves, convulsões. Os principais grupos de risco são as crianças e os idosos, de acordo com especialistas. Porém, além desses grupos, gestantes também requerem atenção especial durante os períodos de calor extremo, assim como os bebês recém-nascidos.
“Nós temos notado que essas ondas de calor excessivo têm causado um impacto muito grande na saúde da gestante e na saúde do feto que vem se desenvolvendo durante essa gestação”, afirma Clery Bernardi Gallacci, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, à CNN.
Segundo a especialista, as altas temperaturas estão relacionadas a um aumento no risco de pré-eclâmpsia e eclâmpsia, quadros caracterizados pelo aumento da pressão arterial em gestantes.
“Nós temos visto que essas alterações na gestante que levam ao aumento da pressão arterial pode causar alterações nos vasos sanguíneos placentários, podendo ocasionar a um trabalho de parto prematuro, a quadros de bebês com restrição de crescimento intrauterino, baixo peso do bebê ao nascer…”, exemplifica. “Dependendo da fase gestacional que essa mulher se encontra, essa onda de calor pode trazer alterações celulares no feto e colaborar para um aumento de alterações cardiológicas fetais e malformações cardíacas”, afirma.
Riscos para recém-nascidos
O calor extremo também pode trazer riscos para a saúde dos recém-nascidos. Um deles é a maior suscetibilidade para infecções, como a alimentar e a dengue, quadros comuns no verão.
Porém, além disso, as ondas de calor podem levar ao comprometimento do desenvolvimento cerebral dos bebês, de acordo com Gallacci.
“Nos primeiros anos de vida, o bebê está numa fase de desenvolvimento cerebral. [Com o calor] É possível ter um comprometimento desse desenvolvimento, porque a temperatura excessiva altera o processo de mielinização [formação de uma bainha de mielina que envolve os axônios dos neurônios, processo fundamental para o sistema nervoso]”, afirma.
Como proteger as gestantes e bebês recém-nascidos?
De acordo com Carlos Henrique Silva Pedrazas, pediatra do Prontobaby Hospital da Criança, uma das principais consequências, a curto prazo, da onda de calor em bebês é a desidratação, além do desconforto respiratório, da insolação e do cansaço excessivo.
“É importante o uso de roupas leves, além de evitar a exposição solar das 10h às 16h, principalmente menores de seis meses de idade. Estratégias como boné e cobertura no carrinho aliviam a incidência direta da radiação solar, mas o calor intenso e duradouro pode, inclusive, elevar a temperatura dos lactentes jovens”, explica o especialista.
Para manter a hidratação adequada do bebê, é importante que a amamentação seja oferecida a todo instante. “O leite humano é completo e consegue contemplar o aumento de necessidade hídrica do bebê em uma situação de calor extremo. Mas, como a amamentação é uma simbiose perfeita, é importante que a mãe se cuide e se hidrate melhor”, orienta Gallacci.
Somada à hidratação adequada, é importante que a gestante e/ou o bebê recém-nascido se mantenham em locais arejados e protegidos da radiação solar. Banhos frequentes também proporcionam alívio aos pequenos, mas requerem atenção especial.
“Devemos diferenciar banho de ‘refrescar o corpo’. O primeiro envolve limpeza e utilização de sabonetes e xampus. Já o segundo é indicado para reduzir a temperatura corporal e não pode ser com água gelada. Dar banhos em excesso com produtos que tiram a gordura levará ao ressecamento da pele, além de facilitar reações como hipersensibilidade e estimular a coceira. Banho apenas com água refresca e traz alívio”, comenta Pedrazas.
Para o pediatra, menores de seis meses de idade não têm a necessidade rígida de banhos diários e a quantidade pode variar de acordo com alguns fatores, como a temperatura do ambiente e o conforto do bebê.
“Ele precisa de limpeza diária e, dependendo do local do corpo, isso deve ser feito várias vezes ao dia. Os pequenos podem ser higienizados diariamente com uma esponja ou toalha umedecida, sem produtos agressivos, principalmente em áreas do pescoço, rosto e da fralda. O banho completo é indicado uma vez a cada dois dias. Sabonete e xampu podem ser utilizados com moderação”, sugere.
Por fim, a alimentação da gestante também deve ser equilibrada durante esse período, priorizando frutas e vegetais ricos em água para auxiliar na hidratação. É o caso da melancia, melão, laranja, limão, morango e kiwi, por exemplo.
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