O árbitro inglês David Coote, de 42 anos, revelou que passou toda a carreira escondendo a própria sexualidade e temendo sofrer abuso por ser gay.
Em entrevista ao jornal The Sun, Coote abriu o coração sobre o uso de drogas, a demissão da Premier League e também desabafou sobre preconceito.
Em novembro de 2024, o David Coote foi suspenso pelo Professional Game Match Officials Limited (PGMOL), órgão responsável pela arbitragem nos jogos da Premier League, devido a um vídeo em que xingava o Liverpool e Jürgen Klopp, seu ex-técnico. Posteriormente o árbitro foi demitido pelo órgão.
Naquele mesmo mês, o The Sun publicou um vídeo e fotos que mostravam o árbitro cheirando um pó branco durante a Eurocopa. A conduta está sendo investigada pela Associação de Futebol e pela UEFA.
Medo do preconceito
Na entrevista ao The Sun, David Coote revelou que recorreu à cocaína devido ao medo de se assumir no “mundo machista” da Premier League. Emocionado, o árbitro disse usar a droga para “escapar”, já que escondia que era gay.
Ele admitiu que não estava sóbrio no vídeo vazado que rendeu sua suspensão, no qual xingava o Liverpool e Klopp. Além disso, revelou que já recebeu ameaças de morte enquanto árbitro.
Coote contou que sentia vergonha, principalmente durante a adolescência, por ser gay.
“Eu não contei para meus pais até os 21 anos. Eu não contei para meus amigos até os 25 anos. Minha sexualidade não é a única razão que me levou a estar nessa posição. Mas não estou contando uma história autêntica se não disser que sou gay, e que tive lutas reais lidando com esconder isso”, desabafou.
Eu escondi minhas emoções como um jovem árbitro e também escondi minha sexualidade — uma boa qualidade como árbitro, mas uma qualidade terrível como ser humano.
David Coote, ex-árbitro da Premier League ao The Sun
O árbitro acrescentou que, durante a carreira, já sofreu diversos tipos de abuso, e acredita que acrescentar a sua sexualidade teria deixado tudo mais difícil ainda.
Uso de cocaína
Segundo o The Sun, Coote se emocionou durante a entrevista e disse que uma “panela de pressão” de emoções reprimidas, combinada com uma agenda de trabalho punitiva, foram responsáveis pelo “escape” na cocaína.
“Não era algo em que eu dependia dia após dia, semana após semana, mês após mês. Eu tive longos períodos em que não o usei — mas era uma das rotas de fuga que eu tinha. Apenas fugir do estresse, da implacabilidade do trabalho. Isso me enche de uma enorme sensação de vergonha dizer que tomei esse caminho”, revelou.
Coote explicou que na temporada 2023/2024 teve um ritmo frenético de trabalho, junto a problemas familiares.
“Em 2023, perdi minha mãe muito repentinamente. Ao mesmo tempo, meu tio foi diagnosticado com doença do neurônio motor. Depois da Covid e da introdução do VAR , seis árbitros foram repentinamente necessários para cada jogo. Fui selecionado pela Fifa para a Copa do Mundo Sub-17 na Indonésia, assim como para a Eurocopa e as Olimpíadas do ano passado. Isso significou que, ao longo da temporada 2023-24, eu estava envolvido em mais de 90 jogos”, relembrou.
Foi durante a Euro, na Alemanha, que o árbitro foi flagrado cheirando cocaína.
“Não me reconheço no vídeo da cocaína. Não consigo ressoar com o que senti naquela época, mas era eu. Eu estava lutando com a agenda e não havia oportunidade de parar. E então me vi naquela posição escapando”, desabafou.
Futuro
No fim da entrevista ao The Sun, David Coote ponderou sobre os fatos ocorridos e seu futuro. O árbitro disse que foi muito difícil ser demitido, porque ama futebol e apita desde os 14 anos.
Mas considera que tenha sido necessário para reavaliar o que realmente importa em sua vida.
“Para passar um tempo de qualidade com a família e os amigos e reservar um tempo para ter certeza de que estou no melhor lugar para seguir em frente”, concluiu.