Depois do recuo firme da véspera, após o governo Trump indicar que a adoção de novas tarifas de importação nos Estados Unidos não seria imediata, as taxas dos DIs fecharam a terça-feira (21) em alta no Brasil, com investidores recompondo alguns prêmios na curva em meio à avaliação de que a situação fiscal brasileira não melhorou.
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para julho de 2025 — um dos mais líquidos no curtíssimo prazo — estava em 14,04%, ante o ajuste de 14,032% da sessão anterior.
Já a taxa do contrato para janeiro de 2026 marcava 14,955%, com alta de 2 pontos-base ante o ajuste de 14,931%. No miolo da curva, a taxa do DI para janeiro de 2029 marcou 15,06%, ante 14,992 na véspera.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 15,05%, em alta de 6 pontos-base ante 14,988% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 14,99%, ante 14,929%.
Na última segunda-feira (20), as taxas dos DIs haviam recuado com a notícia — confirmada posteriormente — de que o presidente dos EUA, Donald Trump, não elevaria tarifas de importação de países em seu primeiro dia de mandato. O movimento ocorreu em meio à percepção de que, se as tarifas não subirem como esperado, a inflação norte-americana pode não acelerar, o que favorece juros mais baixos nos EUA.
Como o mercado de Treasuries permaneceu fechado na segunda-feira em função do feriado do dia de Martin Luther King, nesta terça os rendimentos cediam repercutindo a questão das tarifas. No Brasil, porém, o movimento era oposto, com certa recomposição de prêmios nos DIs.
“O mercado está assim: cai um pouco, no dia seguinte corrige. Até porque ele se apegou nos 15% de taxa média no ‘miolo da curva’. Então, quando vai um pouco abaixo disso, entra força tomadora (de taxa)”, comentou Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos.
Assim, a taxa do DI para janeiro de 2029, que na véspera ficou em 14,992% no ajuste, marcou a máxima de 15,120% às 9h37 desta terça-feira, em alta de 11 pontos-base.
“Do dia 2 (de janeiro) até agora, tivemos uma queda forte dos prêmios, mas sem novidades no cenário fiscal. E se não houve mudanças, talvez faça sentido manter os prêmios mais elevados”, comentou Victor Furtado, head de Alocação da W1 Capital.
Com o recesso do Congresso Nacional até fevereiro, o noticiário fiscal no Brasil está esvaziado. A percepção no mercado é de que o problema fiscal está longe de ter sido resolvido pelo pacote lançado pelo governo Lula no fim de 2024.
Outro fator de pressão é a inflação, que segue desancorada. O relatório Focus da véspera revelou projeções de inflação do mercado de 5,08% para 2025 e 4,10% para 2026 — em ambos os casos acima do centro da meta contínua de inflação perseguida pelo Banco Central, de 3%.
Neste cenário, perto do fechamento a curva a termo precificava 90% de probabilidade de elevação de 100 pontos-base da taxa básica Selic no fim deste mês, contra 10% de chance de aumento de 125 pontos-base. Na véspera os percentuais eram os mesmos. Atualmente a Selic está em 12,25% ao ano.
“Semana que vem já temos o primeiro encontro do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) e vai ser muito difícil não ser isso (um aumento de 100 pontos-base)”, comentou o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori.
“Há uma convergência muito grande em torno disso porque foi anunciado pelo BC, para esta e para a próxima reunião, este aumento, caso não haja mudanças grandes de cenário. Mudar teria um custo grande de credibilidade.”
Por outro lado, Igliori pondera que o encontro do Copom já será realizado com uma semana de governo Trump e que o mercado estará atento a eventuais avaliações do colegiado sobre o cenário externo.
“Estamos em um período com poucos fatos domésticos e muita turbulência externa. Quando houver clareza sobre as tarifas (dos EUA), vamos ver como será a reação dos países a este tipo de política”, afirmou.
Às 16h35, o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 4 pontos-base, a 4,57%.
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